3 aprendizados da resiliência na pandemia
A pandemia de COVID-19 trouxe diversos desafios individuais e coletivos. Saiba mais sobre a resiliência e como ela pode lhe ajudar neste momento.
A resiliência pode ser entendida como um processo de aprendizado e fortalecimento. Diante das dificuldades da vida vamos tropeçando e nos reerguendo com disposição para continuarmos nossa caminhada.
Muito se fala atualmente sobre adaptação e reavaliação de valores e costumes, em especial sobre nossos modos de vida coletivos.
Mas como melhorarmos diante de um cenário que pode parecer desesperador para alguns de nós?
Resiliência na medida
Como ser uma pessoa resiliente?
Uma das recomendações pode ser possuir uma medida certa de otimismo e pessimismo. Não podemos esperar demais de forças ou situações externas, assim como também não podemos excluir as possibilidades positivas do nosso horizonte.
Não sucumbir diante das dificuldades diárias pode ser um trabalho difícil, mas o que dizer, então, para essas experiências potencialmente desafiadoras num momento tão complicado como agora?
Viktor Frankl, eminente médico e psicoterapeuta, é célebre por narrar sua experiência como prisioneiro num campo de concentração durante a 2° guerra mundial no livro “Em Busca De Sentido: Um psicólogo no campo de concentração”.
Nesta obra o autor resume sua experiência observando os colegas e a si mesmo dizendo que quem tem um motivo para viver persiste apesar dos desafios ou “quem tem um porquê encontra um como”.
Às vezes sair da cama, ou fumar um cigarro eram ações cruciais para que se vislumbrasse um futuro para aquele colega que parecia a ponto de desistir.
Imagine viver cada dia como se fosse o seu último?
Autores recentes definem a resiliência como um processo dinâmico em que influências ambientais e individuais se relacionam permitindo às pessoas que se adaptem apesar de adversidades no decorrer de suas vidas.
Resiliência como processo
Como dissemos, alguns autores falam da resiliência como um processo dinâmico que inclui múltiplos fatores de risco e de resiliência, que podem ser sociais, culturais, familiares, genéticos, fisiológicos, cognitivos, afetivos, entre outros.
A resiliência diz respeito, também, ao que é esperado de nós, enquanto indivíduos de uma certa sociedade, inseridos numa determinada comunidade, localizada no tempo e no espaço.
Basta pensarmos em nós, aqui no Brasil, no século 21, que vivenciamos a pandemia de COVID-19 com as peculiaridades de nossos sistemas político e de saúde para nos situarmos melhor diante dessa proposta.
O que é esperado de nós enquanto membros dessa sociedade e como podemos contribuir para a melhoria, não só de nossas vidas particulares, mas também de nosso entorno, acabam guiando nossas aspirações e ações- até onde podemos e/ou queremos compreender.
O conceito de resiliência vem sendo discutido com maior afinco desde a segunda metade do século passado e é muito utilizado quando se estuda o desenvolvimento de crianças e adolescentes.
Aprendizados de resiliência na pandemia
Como vimos, a resiliência é um tipo de aprendizado. É como se fôssemos ficando mais fortes, mais habilidosos, como o protagonista do romance “O Conde de Monte Cristo”, de Alexandre Dumas, que supera diversas adversidades em busca do seu objetivo final.
Podemos encarar a pandemia como nosso obstáculo da vez, ou obstáculo maior na fase atual das nossas vidas, coletiva e individualmente.
Deste modo, vamos refletir sobre algumas lições que podemos retirar das adversidades trazidas pela pandemia e nos fortalecermos.
Resiliência na família
O convívio familiar pode apresentar inúmeras dificuldades para qualquer um de nós. Desde nosso nascimento até a vida adulta a família se constitui como abrigo e referência que perdura por toda a existência.
Mesmo a falta de uma família, ou de algum de seus membros deixa marcas em nós.
Aprender a lidar com as diferentes personalidades e a respeitar limites físicos e afetivos de cada pessoa, observando sua fase de desenvolvimento, seus interesses e personalidade constitui um desafio constante que se relaciona com a maneira como nos vemos e como enxergamos os outros.
Talvez um dos aprendizados que a pandemia nos traz, forçando nossa evolução, nossa resiliência, seja uma apreciação de nossa família, no sentido de ser uma rede de apoio muitas vezes essencial, senão única, em nossa jornada.
Especialmente quando compartilhamos uma casa com outras pessoas, passamos por momentos de tensão criando e protegendo limites pessoais, e da mesma forma lidamos com limites físicos.
Atividades lúdicas que possam descontrair a todos, como jogos de tabuleiro ou outras atividades que façam parte da cultura da família podem ser um alívio momentâneo e um auxílio no fortalecimento dos vínculos.
Esse conhecimento se apoia em e fortalece outra dimensão de nosso ser, a afetividade. Como nos afetamos pelos outros e pelo mundo em nossa volta e como lidamos com seus efeitos.
Resiliência nos relacionamento afetivos
Do mesmo modo que compartilhamos o mesmo espaço com nossa família, que pode ser pequena, numerosa, estendida etc. muitas vezes partilhamos nossa vida com uma companheira ou companheiro.
Atualmente muitos relacionamentos afetivo-sexuais têm experimentado tensões devido ao isolamento social e às mudanças na dinâmica de casais que antes dividiam seu tempo entre outras atividades externas.
Assim como na família, a construção e manutenção dos vínculos pessoais pode sofrer um esgarçamento em períodos de demasiada tensão como o atual.
O principal é encontrar estratégias para diminuir o estresse e não agir com violência diante das frustrações do dia a dia e descontar na pessoa que está ao seu lado.
A comunicação é a chave do bom relacionamento, é preciso manter o canal aberto e expressar desejos e descontentamentos na dinâmica do casal.
Uma das estratégias possíveis é exercitar a escuta ativa. A escuta ativa é uma técnica, ou instrumento de comunicação que ajuda a lidar com conflitos e a estabelecer uma comunicação mais eficaz em várias situações.
Para fazer uso desta ferramenta você precisa ouvir a outra pessoa sem interrompê-la com conselhos, dicas, lembranças ou correções. O foco é ouvir a outra pessoa sem julgamentos.
Você pode interromper a fala do outro para pedir esclarecimentos sobre o que foi dito, ou confirmar o que ouviu.
Esse procedimento pode ser realizado em turnos, revezando os papéis de ouvinte e falante.
Resiliência no trabalho
Novamente, outro espaço em que as relações pessoais são imprescindíveis é nosso local de trabalho.
Hoje em dia ele pode ser mais virtual do que físico, devido às demandas de segurança sanitária, no entanto mantém as características de cooperação e interdependência entre várias pessoas diferentes.
Para lidar com as dinâmicas do trabalho podemos procurar estabelecer horários de trabalho onde desligamos notificações de celular e outras distrações.
O ideal é ter um espaço dedicado para o trabalho em casa e contar com a colaboração da família para desempenhar suas funções.
A pressão do trabalho, somada às necessidades da família e do(a) parceiro(a) podem criar um vórtice que suga sua energia e afeta seu humor, produtividade e libido.
Equilibrar as diferentes dimensões de nossas vidas nunca é tarefa fácil e faz parte do desenvolvimento pessoal de cada um de nós encontrar estratégias e transformar nossas realidades avançando graças a uma resiliência criativa e perene.
Construindo sua resiliência
Vimos alguns dos aspectos e dimensões humanas que trazem aprendizados através de desafios que são comuns a todos nós de alguma maneira.
Enfrentados com resiliência esses momentos podem nos levar adiante, nos fortalecendo ou nos obrigando a recuar, ainda que brevemente, para avançar com mais segurança posteriormente.
Talvez este período possa ser realmente um momento para superarmos crenças ultrapassadas e revermos modelos que já não fazem sentido, tanto em nossas vidas individuais quanto coletivas.
Afinal, se houve um momento em nossa história recente em que ficou evidente nossa interdependência, certamente é nossa atualidade de isolamento, distanciamento e comprometimento social.
É preciso lembrar que às vezes precisamos encontrar um novo sentido para a vida, mesmo que transitório, para seguirmos adiante.
Reservar um tempo para si e focar em pequenas ações positivas para si e outros e estabelecer uma rede de apoio parecem ser as principais dicas gerais que ficam quando observamos a literatura especializada.
A superação é difícil mas pode ser atingida mesmo que seja necessário pedir ajuda.
Nesses casos, conte com profissionais qualificados para lhe apoiar na caminhada. Agende uma consulta conosco e saiba mais sobre resiliência e estratégias para aumentar ou restabelecer seu bem-estar.
Referências
FRANKL, Viktor E. Em Busca De Sentido: Um psicólogo no campo de concentração. Editora Vozes, 2017.
INFANTE, Francisca. A resiliência como processo: uma revisão da literatura recente. Resiliência: descobrindo as próprias fortalezas, p. 23-38, 2005.