Se sente doente o tempo todo? Entenda como a psicoterapia pode te ajudar a tratar a hipocondria.
A hipocondria, essa obsessão com a ideia de ter um problema médico grave, porém indetectável, pode causar sofrimento em sua incessante busca de sentido para sensações internas.
A hipocondria, essa obsessão com a ideia de ter um problema médico grave, porém indetectável, pode causar sofrimento em sua incessante busca de sentido para sensações internas. A psicoterapia pode ajudar a tratar a hipocondria através algumas estratégias terapêuticas.
A hipocondria é um transtorno caracterizado pela preocupação ou pelo medo persistente de ser portador de doença grave, com base na interpretação errônea de um ou mais sintomas físicos.
Pessoas hipocondríacas não se tranquilizam mesmo depois de ter realizado repetidas avaliações nas quais não foi identificada doença alguma; as preocupações persistem apesar das garantias médicas de que nada de grave existe.
- O que é hipocondria?
- O que é uma pessoa hipocondríaca?
- Hipocondria como tratar
O que é hipocondria?
A psicanálise de Freud fala da estrutura psíquica invisível que nos guia diante da existência e como sua interferência pode passar despercebida causando milagres e desastres em atos e pensamentos. A hipocondria seria uma dessas interferências onde afetos mal resolvidos se manifestariam fisicamente no próprio corpo da pessoa.¹
Para a teoria cognitiva e comportamental a hipocondria está ligada a transtornos de ansiedade, onde o comportamento hipocondríaco estaria ligado a tentativa de amenizar a ansiedade.
A semelhança de alguns sintomas da hipocondria com os do transtorno obsessivo compulsivo (TOC)- particularmente pensamentos persistentes, dúvidas e ruminações sobre a possibilidade de ter uma doença grave, hipervigilância, repetições de exames e de avaliações médicas e busca de reasseguramentos- chamou a atenção para a possível relação entre os dois transtornos.²
Esses fatos levaram alguns autores a incluí-la no chamado espectro obsessivo-compulsivo, ao lado de outras condições, como o transtorno dismórfico corporal e a anorexia nervosa.²
O que é uma pessoa hipocondríaca?
Para a psicanálise o encontro com um(a) especialista da saúde não é um acontecimento exterior, ele diz respeito implicitamente e, desde o início, ao que acontece com o corpo e situa-se imediatamente no meio da dor.¹
Em “Memórias da Minha Doença Nervosa” de Daniel Paul Schreber- paciente de Freud e figura famosa nos estudos sobre a psique- evidenciaram isso claramente, corroborado por relatos psiquiátricos que mostram em que medida as queixas corporais, incessantemente repetidas e incompreensíveis, refratadas pelo mesmo esquema interpretativo, estão ligadas a uma forma de apreender outras pessoas em sua estranheza de um modo exclusivo.¹
A hipocondria então aparece pela primeira vez sob a espécie altamente narcisista típica de uma relação singular consigo mesmo e com a outra pessoa, onde a distância é inexistente e extrema ao mesmo tempo.¹
Inexistente ainda porque ao mesmo tempo o outro é percebido em vez de si mesmo. Entre estes dois extremos a projeção traça um caminho, centrado no objeto que fascina pela sua proximidade como pela sua distância, no qual o sofrimento está em jogo.¹
As preocupações relacionadas com o peso do corpo são, portanto, em Schreber a parte principal da '' primeira doença nervosa '' apresentando um conflito inteiramente centrado no corpo e especialmente no que ele deveria ser segundo uma dialética de confronto o sujeito com as exigências do superego do corpo.¹
Hipocondria como tratar
O trabalho terapêutico na psicanálise e em outras abordagens psicodinâmicas é reestabelecer o contato entre a pessoa e sua energia psíquica desequilibrada, fazendo-a senhora de sua história ao assumir os sentidos dispersos de si mesma.
Crenças distorcidas (como exagerar o risco e necessidade de ter certeza) e erros cognitivos (como pensamentos catastróficos) comuns no transtorno obsessivo compulsivo (TOC) são também facilmente identificados nas pessoas com hipocondria.²
A terapia cognitiva, a terapia comportamental, a terapia cognitivo-comportamental (TCC) e o manejo comportamental de estresse são abordagens efetivas em reduzir os sintomas da hipocondria.²
A TCC tem por objetivo corrigir aprendizagens erradas e substituí-las por novas aprendizagens, além de modificar pensamentos, avaliações, interpretações e crenças erradas ou distorcidas.²
A terapia comportamental usa como estratégia para romper esse ciclo eliminar os fatores que perpetuam os sintomas, por meio de uma nova aprendizagem – a habituação (ou a extinção).
Esta modalidade terapêutica faz isso por meio de duas técnicas em especial: propondo que o paciente, de forma gradual, entre em contato direto com os objetos, locais ou situações que provocam medo ou desconforto (exposição) e que deixe de executar rituais e outras manobras que aliviam ou neutralizam o desconforto (prevenção de rituais ou prevenção de resposta).²
A terapia de exposição e prevenção de rituais (EPR) é a técnica psicoterápica mais utilizada no tratamento do TOC e vem sendo empregada com sucesso há mais de 30 anos.²
A hipocondria pode ter raízes profundas e manifestações diversas que de todo modo interferem na vida diária. Num contexto de pandemia a hipocondria e a ansiedade associada a ela podem se tornar insuportáveis para quem sofre diretamente com o transtorno e para aqueles que acompanham e amam a pessoa vítima da disfunção.
Os atendimentos também podem ocorrer virtualmente, online, em tempo real com um(a) psicoterapeuta evitando exposição durante a pandemia.
Há várias opções de tratamento e manejo da hipocondria com psicoterapeutas especializadas.
Busque ajuda profissional conosco para você ou uma pessoa querida.
Marisa de Abreu
Psicóloga
CRP 06/29493
Agende sua consulta >> Ligue no (11) 3262-0621 ou clique aqui
1 DERZELLE, Martine. Towards a Psychosomatic Conception of Hypochondria: The Impeded Thought. Springer Science & Business Media, 2013.
2 CORDIOLI, Aristides Volpato; DE SOUZA VIVAN, Analise; BRAGA, Daniela Tusi. Vencendo o Transtorno Obsessivo-Compulsivo-: Manual de Terapia Cognitivo-Comportamental para Pacientes e Terapeutas. Artmed Editora, 2016.