A psicose faz com que a pessoa se distancie da realidade ordinária e habite um mundo de significados exclusivos onde a percepção fica comprometida assim com as possibilidades de comunicação com o mundo externo.

É como se alguém entrasse num looping de ideias que estão sempre ali, na forma de pensamentos delirantes ou mesmo alucinações visuais e auditivas.

Há especialistas que propõem que o delírio pode ser menos um problema do que uma solução. Durante muito tempo os psiquiatras já haviam observado que o que se costuma tomar como sintomas da loucura são, na verdade, respostas à loucura¹.

Cada um de nós enfrenta problemas com os quais lida à sua maneira singular, e aquilo que é rotulado de doença mental, na realidade, pode ser um esforço para reagir a essas dificuldades e elaborá-las¹.

Assim, por exemplo, uma pessoa pode ter medo de beber água da torneira da própria casa por acreditar que inimigos envenenam toda a água da casa; e certamente há condições externas que favorecem a aparição de tais concepções do mundo nas pessoas que começam a divergir das percepções do mundo a sua volta.

Para Freud, grande parte da psicose tem a ver com a restauração, o esforço de recriar a realidade ou de restabelecer o contato com ela. A estranheza do pensamento delirante faz com que, muitas vezes, ele pareça exatamente o inverso, mas sua função curativa pode ser singularmente clara¹.

Apesar das advertências dos psiquiatras progressistas ao longo dos anos e dos movimentos da antipsiquiatria das décadas de 1960 e 1970, a psicose, com muita frequência, ainda é equiparada às maneiras pelas quais algumas pessoas deixam de se enquadrar nas normas utilitaristas da sociedade¹.

Assim, o diagnóstico de "psicose" pode ser vista como uma falha daquela pessoa em continuar produzindo- uma máquina que apresenta um defeito de funcionamento. Mas há um esforço da categoria de profissionais da saúde mental em dialogar com a pessoa que vivencia tais coisas extraordinárias e trabalhar num sentido de reintegração da pessoa com os outros no mundo e vencendo preconceitos.

Marisa de Abreu Alves

Psicóloga

CRP 06/29493

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1 LEADER, Darian. O que é loucura?: Delírio e sanidade na vida cotidiana. Zahar, 2013.